terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Ai, minhas amebas!

Quando eu era criança nutria alguns sonhos que somente nessa tenra idade se pode ter o luxo de ostentá-los. Um deles era quebrar um dos braços, para que as garotas da minha escola gravassem seus nomes e frases românticas no gesso. Outro era ter hepatite, pois se dizia que o tratamento consistia na ingestão de muito doce. Por último, gostaria muito de operar as amígdalas, uma vez que, operando-as, a recuperação seria feita através de sorvetes, gelados etc.
Falo um pouco dos meus sonhos pueris, para introduzir algo curioso que me ocorreu em uma das minhas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. Joãozinho também tinha um sonho, mas o dele não era engessar um braço, nem ter hepatite, muito menos operar as amígdalas; era operar as “amebas”. Sonhava em extraí-las, visto que, almejava realizar as leituras em voz alta, dos belos textos literários trabalhados em sala de aula. Todos riram copiosamente. Uns riam, mesmo sem compreender, contagiados pela euforia dos outros. Estes, os que sabiam o significado de amígdalas, recusavam acreditar no que haviam escutado: “Tenho que operar as amebas, pois elas inflamam quando leio em voz alta”.
Meditando na pérola extraída daquela ostra, quedo-me a pensar se ele se referia mesmo a ameba, já que é um parasita que se aloja e passa a viver no intestino humano, não na garganta, consumindo os nutrientes do nosso corpo e, assim, fazendo enfraquecer o nosso organismo. Alguns sinais da presença de ameba são: fadiga, cansaço, apatia com frequência, ansiedade, esquecimento e outros. Será que o baixo nível de aprendizagem dos nossos alunos não seria ocasionado pela grande quantidade desse parasita no intestino deles? Lembro-me que quando estava com preguiça, com muito sono, sem querer fazer as atividades da escola, minha mãe dizia que só estando com verme, ou seja, ameba.
Não gostaria de fazer juízo precipitado ou generalizar, dizendo que os problemas na Educação do país sejam ocasionados por verminoses, mas dizemos que sim, quando analisamos a corrupção, quase que inerente aos políticos gestores da nossa nação. São verdadeiros vermes, parasitas que se alojam nos organismos públicos, para somente consumir os nutrientes que seriam utilizados nas escolas, na formação continuada e valorização dos professores. Investimentos que, certamente, são indispensáveis para a saúde intelectual e cidadã das nossas crianças. Em vez disso, temos alunos apáticos, de baixo rendimento, de péssima capacidade de inferência e memorização.
É verdade que a família tem grande parcela de culpa, mas ela também é vítima dos parasitas políticos. Eles sugam todas as possibilidades de uma vida de qualidade, mantendo-a, em algumas situações, às margens do animalesco. Com isso não gostaria de concordar com Rousseau, quando afirma com seu romance, Emílio, que o ser humano é naturalmente bom, sendo corrompido pelo meio. Prefiro concordar com o salmista, quando conclui que “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errado desde que nascem, proferindo mentira”. Esta teoria bíblica não inocenta os causadores das mazelas sociais, pois soberania divina e responsabilidade humana é uma complexa dicotomia a ser tratada em outro momento. Uma coisa é certa! Tais parasitas são reais e faz décadas que vêm causando grandes estragos à sociedade.
Necessita-se urgentemente da erradicação desses parasitas (Entamoeba histopolytica). O tratamento não será com metronidazol, tinidazol ou secnidazol. Será que o amebicida correto é mesmo o voto?
Francisco Fernandes

Maracanaú, 17 de janeiro de 2017