sexta-feira, 30 de março de 2018




Cidade Futuro, Ano novo, Velha Tradição

Em toda mudança de ano nos enchemos de novos planos, planejamos novas empreitadas, empreitamos novos desafios e desafiamos a criatividade. A mesmice não é legal, o espírito do ano novo nos enche de esperança e todos queremos coisas novas, prosperidade, saúde, ser felizes. Imbuído desse sentimento e analisando o slogan que traz a gestão municipal “Jaguaribe Cidade Futuro”, pensei cá com meus botões, por que não fazer uma série de mudanças em alguns nomes de lugares e de pessoas, que talvez soem mal para uma cidade futurista? Na Jaguaribe Futuro não ficaria legal nomes como Rua da Gaveta e Rua do Riacho, sugeriria Alameda do Cacifo e Bulevar do Ribeiro. Daria um ar mais parisiense para a cidade. Uma cidade moderna com um conjunto de pontos comerciais chamado Calor da Bacurinha é, no mínimo, ridículo. Poder-se-ia substituir por um nome mais científico para ocultar o sentido malicioso, como por exemplo, Centro Comercial Ardência no Regaço. Novos bairros surgem e os antigos não deveriam mais manter seus nomes pitorescos. O bairro Curralinho poderia chamar-se Vivenda Pequeno Aprisco. O distrito de Feiticeiro se chamaria de Distrito de Hierofante, ocultaria o significado obscuro do nome. Mudanças são necessárias a uma cidade que cresce.
Imaginem chegando alguém ao aeroporto municipal e tomando um táxi com o Mané Malassada, ainda que já esteja aposentado, ou com o Meia-luz. Seria mais chique ter como taxista o Sr. Manuel Tortilha, algo mais próximo do espanhol, ou o Sr. Penumbra, menos jocoso. Consertar seu relógio no relojoeiro e cartunista Francisco Delgado, nome de artista hispânico, seria muito mais elegante que ir à oficina do Chico Tripinha. Almoçar no restaurante do Sr. Francisco Abastado seria muito mais apetitoso que comer na churrascaria do Chico Rico. Comprar bebidas finas no minimercado do Sr. José Distraído seria mais requintado que comprar um litro de vinho na bodega do Zé Lesado.
Não acredito ser legal para uma cidade desenvolvida, um restaurante chamado Maria da Caboca. Imaginem o nome “Restaurante A Legatária da Mestiça”. Que nome fino! E uma fábrica de reaproveitamento de caixas velhas, com o nome de Sopapo, de propriedade de um cara chamado Nego Véi? Jamais deveria encontrar espaço numa cidade de primeiro mundo. Seria chiquérrimo, visitar uma cidade hiperdesenvolvida, comprar uns souvenires em seu centro comercial e embalá-los em caixas recicladas confeccionadas pela Solavancos Reciclagem, de propriedade do Sr. Afrodescendente Idoso. 
Tudo isso seria politicamente correto e uma verdadeira IDIOTICE. É fato que almejamos boas mudanças para 2018, e que Deus nos conceda, mas ser escravizado por tal ditadura é deprimente. A cidade cresce, os projetos podem até ser visionários, mas as tradições, ainda que infrinjam alguns conceitos pós-modernos, manter-se-ão. Sempre serão, rua da gaveta, rua do Riacho, bairro Curralinho, distrito de Feiticeiro. Mesmo quando não estiverem mais entre nós, as personagens sempre serão, Malassadas, Marinheiros, Meia-luz, Zé Lesado, Chico Rico, Maria da Caboca, Chico Tripinha, Nego Véi, as que farão parte do patrimônio imaterial de Jaguaribe.    
Francisco Fernandes
https://cronicaeuconto.blogspot.com.br/
29 de dezembro de 2017

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