terça-feira, 8 de novembro de 2016

Sola Gratia

Impressiona-te com as estratégias que vês no grupo chamado bancada evangélica? Sabes que não é em nome do cristianismo que eles trabalham, mas em prol de uma ascensão ao poder, ao mando, ao dinheiro, que desde cedo tenho te instruído que o amor a ele é a raiz de todos os males, como diz Paulo a Timóteo. Mas também deves atentar que, por gerar todos os males, não deve ser motivo para entrares no comodismo, portando-te tal qual o verso do hino nacional, “deitado em berço esplêndido”. O esplendor do teu descanso deverá ser a graça inefável do Pai celestial, confiando na sua soberania e crendo que te sustentará, coisa que os tais “representantes evangélicos” não compreenderam ou a ostentação do poder já roeu suas inocências. A esta te aconselhei, quando te falava da passagem em que Jesus dizia que para ganhar o reino de Deus terias que ser como criança, lembra-te?
Sabias que eles começaram sorrateiramente pelas câmaras de deputados, adentraram ao senado, recentemente conquistaram a prefeitura da mais famosa capital brasileira, o Rio de Janeiro? Foi sim, mas o plano é bem mais audacioso. Segundo a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Christina Vidal, 42, a estratégia do PRB (Partido Republicano Brasileiro) é conseguir a presidência da República para barrar no Supremo Tribunal Federal temas de minorias – como a pauta gay, aprovação do aborto etc. – que trava embates com esses religiosos. Somente balela! O alvo é nada mais que o poder. Poder que jamais vislumbrarás nos ensinamentos dos cristãos primitivos. Já viste isso na Bíblia? É verdade que essas causas são importantes para as famílias cristãs tradicionais, mas o arvorar dessas bandeiras parece servir somente de meio para conquistar os votos inocentes dos adeptos.
Estudiosos têm reconhecido a contribuição prestada pelo movimento calvinista ao aperfeiçoamento das instituições políticas do mundo ocidental. Obviamente, a consciência cristã influenciou na queda de muitos poderes totalitários e embasou a constituição das maiores potências mundiais. A experiência de cristãos puritanos na Nova Inglaterra (Estados Unidos) embasou a tradição política norte-americana por diversas razões, pois lideres destacados como John Cotton, John Winthrop e outros, influenciaram a sociedade, a política; contribuíram com a democracia; deram ênfase à educação e à energia moral. Deves atentar bem para isto: ênfase à energia moral. Mesmo com todas as falhas, passíveis ao ser humano, a intenção sempre foi o bem-estar do povo.
Acreditas que esses “representantes evangélicos” estão preocupados com o bem-estar, ainda que seja somente com seus domésticos da fé? Particularmente, sou cristão, mas eles não me representam. Representam a ti? Quando contemplo os meios de conquista; as estratégias de caixa dois; o uso da máquina política em prol da eleição; os conchaves com lideranças oligárquicas e corruptas; e as estratégias diabólicas para a governabilidade no sistema político brasileiro; acredito menos em tais representantes!
Aconselho-te a esperar o reino prometido por Deus.
Sola Fide.
Sola Scriptura.
Solus Christus.
Sola Gratia.
Soli Deo gloria.

Francisco Fernandes

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Vai fazer o ENEM? E NEM eu!

Quando comecei a lecionar espanhol, em 2009, era tudo uma grande novidade. Tudo começou com a obrigatoriedade da disciplina no Ensino Médio, com a lei nº 11. 161/2005, que estabeleceu a inclusão da Língua Espanhola no Ensino Médio, concedendo aos estados um prazo de cinco anos para conclusão do processo de implantação da oferta, isso para 2010, quando entrou em vigor. Consecutivamente passou a fazer parte do caderno de questões da área de Linguagens e códigos no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). No início percebi que os alunos não o levavam tão a sério como hoje. Existiam, inclusive, algumas brincadeiras que terciam sobre a avaliação; “Nem vou fazer o ENEM” dizia um aluno e o outro respondia “E NEM eu”. Isso se tornou irritante para os professores, como a maioria das invencionices juvenis na escola. “Vai fazer o ENEM E NEM estuda”, diziam em tom de piada para os menos estudiosos. Havia também, em uma das instituições de ensino que tive o prazer de trabalhar, um zelador com a alcunha de NEM. Ele era motivo de diversão nos horários de intervalo do alunado sobre o tão famigerado exame. “Ê NEM, vai fazer o ENEM?”, ele respondia NAM. “E NEM eu”. Mais uma forma de rejeição à terrível maratona de “provas”. Hoje percebo que a sigla passou a fazer parte do dia a dia, não somente de alunos do Ensino Médio, mas também do Ensino Fundamental, pois há alunos que o realizam, em forma de teste, a partir desta faze.
É incrível a facilidade com que nossos gestores cambiam de ideias, pois até a menos de uma década a Língua Espanhola era imprescindível para a educação básica do brasileiro e, diga-se de passagem, a única com lei específica para a sua aplicação. Agora, com a nova proposta de reforma do Ensino Médio será relegada a simplesmente um idioma de países subdesenvolvidos, já que a prioridade é sempre para a introdução de costumes e culturas dos opressores. Reconhecer a importância da língua dos nossos vizinhos sul-americanos e oficial em 22 países não é importante para a “grande alavancada” do novo “governo salvador da pátria”.
O ENEM foi uma grande iniciativa do governo nacional, que oportunizou a universalização e interiorização das universidades públicas; acesso às universidades públicas e particulares; certificação do Ensino Médio; intercâmbio internacional. Tudo isso, abrindo oportunidades para aqueles que jamais poderiam sair de seus municípios para galgar uma vaga em qualquer universidade de qualquer estado da união. Como ele ficará? Uma incógnita!
  Temo que o aluno do interior deste continental país continue a perguntar “Vai fazer o E NEM?”. Agora, não mais por motivo de “zoação” ou medo do bicho-papão da prova, mas por não ter condições de sair de sua cidade longínqua, para sofrer as grandes concorrências das universidades públicas, filão que outrora pertencia somente às elites.
E sobre as ocupações das escolas públicas, sem querer entrar no mérito de que seja certo ou não, porque não fizeram a mesma logística realizada nas eleições municipais deste ano? Lógico, eleger politiqueiros é mais importante que formar políticos. Talvez por isso a ideologia “escola sem partido” se preocupa tanto com a doutrinação dos alunos!   


Francisco Fernandes

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Má Núpcia

Ela estava indo até bem quando resolveu casar, pensando que resolveria alguns problemas financeiros e outros de relacionamentos, pois era de família pobre e não tinha acesso às rodas sociais, à elite, ambição que, inevitavelmente, sufoca a vida de um emergente.  Decidiu assumir um jugo desigual, não atentando para o fato de que, confeccionar roupa de linho e lã não é aconselhável, pois um é adequado ao calor e a outra, ao frio. Colocar um boi e um burro em uma mesma canga não seria a forma adequada de realizar um trabalho profícuo. São animais de naturezas distintas e, inevitavelmente, causariam um grande desastre. Assim foi sua aliança.
Mas tudo bem! Mesmo com o desastroso ajuntamento ia conseguindo administrar sua casa; colocar comida na mesa; pagar escola para os pequenos e faculdade para os maiores; os filhos tinham meio de transporte para se locomover; podiam viajar de avião nas férias; estavam tendo acesso à saúde, ainda que de forma precária; alguns filhos que moravam no interior do estado, agora tinham acesso à universidade pública de qualidade; e havia outros benefícios que fizera melhorar consideravelmente a qualidade de vida de seus familiares.
Pecou! Pecou feio para poder manter o casamento. Achava que não manteria a governabilidade de sua casa, sustentar o status, ter o reconhecimento da elite, se não houvesse casado com um filho desta. Fechou os olhos para alguns desvios que seu esposo fez na empresa que trabalhava. Fê-lo porque acreditava que não conseguiria sustentar a casa. Não via outra maneira de garantir os víveres a seus filhos sem a ajuda do amante, ainda que adquirido de formas escusas. Não creu que teria sucesso se tivesse andado em justiça, e falado em retidão, arremessado para longe de si o ganho de opressões, tapado os ouvidos para não ouvir falar de sangue, e fechado os olhos para não ver o mal; habitaria nas alturas, e as fortalezas das rochas seriam seu refúgio. O seu pão lhe seria dado, e as suas águas seriam certas. Essa promessa é dada por Deus por meio do profeta Isaías no capítulo 33, versículos 15 e 16.
O marido descobriu que não precisava mais dela para manter-se. Agora é hora de expulsá-la de casa. Fê-lo de forma vergonhosa. Covarde! Não a amava! Lançou-a de forma abrupta na rua, como uma ladra. O seu erro foi confiar em uma aliança que parecia ser benéfica. Só queria sustentar seus filhos, mas havia também um pouco de vaidade, de ostentação de poder.
O amante assumiu a casa com uma proposta de arrumá-la, mas a sua preocupação era somente com a estrutura que deveria apresentar a seus visitantes e parentes. Para organizá-la, primeiro teria que cortar despesas e sabe quem deveria pagar o preço? Os enteados! Nada de fartura na mesa, basta pão e água; nada de transporte próprio para ir trabalhar ou ir para a escola; nada de faculdade, pois fazê-la é somente para os ricos. Mas o mais absurdo é a proposta de um parente que vai se beneficiar com a economia da morte, quando foi indagado sobre os cortes na saúde: “se cuide para não adoecer”. Interessante! Ouvi de uma funcionária pública, que sua chefa teve a petulância de pedir que avisasse com antecedência que iria entrar com atestado para não comprometer o cronograma. É possível onde não há saúde preventiva, prever que vai adoecer?
Conheço pessoas que para viver o luxo; não comem com qualidade; não fazem um passeio com os filhos; matriculam os filhos em escolas públicas, se bem que a escola pública deveria ter qualidade para acolher ricos e pobres, pois já a pagamos com nossos impostos. Será essa a intenção do padrasto? Será que vai enxugar as contas da casa, eximindo-se do cuidado aos enteados? Morra o bucho!
Francisco Fernandes