segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Vai fazer o ENEM? E NEM eu!

Quando comecei a lecionar espanhol, em 2009, era tudo uma grande novidade. Tudo começou com a obrigatoriedade da disciplina no Ensino Médio, com a lei nº 11. 161/2005, que estabeleceu a inclusão da Língua Espanhola no Ensino Médio, concedendo aos estados um prazo de cinco anos para conclusão do processo de implantação da oferta, isso para 2010, quando entrou em vigor. Consecutivamente passou a fazer parte do caderno de questões da área de Linguagens e códigos no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). No início percebi que os alunos não o levavam tão a sério como hoje. Existiam, inclusive, algumas brincadeiras que terciam sobre a avaliação; “Nem vou fazer o ENEM” dizia um aluno e o outro respondia “E NEM eu”. Isso se tornou irritante para os professores, como a maioria das invencionices juvenis na escola. “Vai fazer o ENEM E NEM estuda”, diziam em tom de piada para os menos estudiosos. Havia também, em uma das instituições de ensino que tive o prazer de trabalhar, um zelador com a alcunha de NEM. Ele era motivo de diversão nos horários de intervalo do alunado sobre o tão famigerado exame. “Ê NEM, vai fazer o ENEM?”, ele respondia NAM. “E NEM eu”. Mais uma forma de rejeição à terrível maratona de “provas”. Hoje percebo que a sigla passou a fazer parte do dia a dia, não somente de alunos do Ensino Médio, mas também do Ensino Fundamental, pois há alunos que o realizam, em forma de teste, a partir desta faze.
É incrível a facilidade com que nossos gestores cambiam de ideias, pois até a menos de uma década a Língua Espanhola era imprescindível para a educação básica do brasileiro e, diga-se de passagem, a única com lei específica para a sua aplicação. Agora, com a nova proposta de reforma do Ensino Médio será relegada a simplesmente um idioma de países subdesenvolvidos, já que a prioridade é sempre para a introdução de costumes e culturas dos opressores. Reconhecer a importância da língua dos nossos vizinhos sul-americanos e oficial em 22 países não é importante para a “grande alavancada” do novo “governo salvador da pátria”.
O ENEM foi uma grande iniciativa do governo nacional, que oportunizou a universalização e interiorização das universidades públicas; acesso às universidades públicas e particulares; certificação do Ensino Médio; intercâmbio internacional. Tudo isso, abrindo oportunidades para aqueles que jamais poderiam sair de seus municípios para galgar uma vaga em qualquer universidade de qualquer estado da união. Como ele ficará? Uma incógnita!
  Temo que o aluno do interior deste continental país continue a perguntar “Vai fazer o E NEM?”. Agora, não mais por motivo de “zoação” ou medo do bicho-papão da prova, mas por não ter condições de sair de sua cidade longínqua, para sofrer as grandes concorrências das universidades públicas, filão que outrora pertencia somente às elites.
E sobre as ocupações das escolas públicas, sem querer entrar no mérito de que seja certo ou não, porque não fizeram a mesma logística realizada nas eleições municipais deste ano? Lógico, eleger politiqueiros é mais importante que formar políticos. Talvez por isso a ideologia “escola sem partido” se preocupa tanto com a doutrinação dos alunos!   


Francisco Fernandes

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