quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Dindim Gourmet (continuação)

A aurora surge ainda com maior intensidade e o crepúsculo acontece com muito mais beleza, na cidade que já não é mais tão singela. Tranquilidade continua sendo um de seus atributos e a autoestrada federal ainda continua no mesmo local. Rio e BR já não são mais os limites leste / oeste e aquele, que antes palmilhava seus 610 km diretamente ao mar, agora desagua no imenso lago artificial com capacidade para 6.700.000.000mᵌ (seis bilhões e setecentos milhões de metros cúbicos) de água, o Castanhão.  Já faz 24 anos que pus pela primeira vez os pés na cidade do queijo e os dois postos de combustível não são mais os limites norte / sul da sede municipal. O açude de Feiticeiro não mais se apresentará como um quebra-cabeça de barro rachado, pois o grande Orós transpõem suas águas ao imprescindível reservatório. O Cruzeirinho de Aluísio Diógenes tronou-se um bairro saneado, construído em regime de mutirão e o Mutirão é agora um grande bairro engendrado pelo êxodo rural, inevitável nas cidades crescentes, mas capaz de decidir uma eleição municipal. Aquele que, desembestado em sua caminhoneta Pampa, corria em direção à sua recém-inaugurada loja na esquina da 8 de Novembro com a Cônego Mourão, agora é o maior empregador da região e um dos grandes empreendedores do estado. Fez da Tuboarte uma das referências jaguaribanas.
Acabou a disputa entre o Clóvis e o Carmela, pois as escolas do estado, Cornélio, Raul e Sinó, se firmaram com excelência na formação cidadã e do Ensino Médio e os jovens, que antes não tinham acesso à universidade, agora podem trilhar o tão sonhado caminho do sucesso profissional, já não mais exclusividade dos mais abastados. As batatas fritas do Miquinho foram substituídas pelos sushis, os sanduiches, os açaís e o que é de mais atual para o paladar jaguaribano, mas nada supera as saudosas coxinhas do Morais, literalmente com um ossinho de galinha em lugar do palito. Dizem que o peculiar sabor era resultado de um tacho que nunca era lavado. Que importava? A alta temperatura do óleo consumia qualquer impureza. Oxalá houvesse um grande tacho desses em Brasília, para consumir toda a impudência dos coxinhas políticos.  É também inadmissível vir a Jaguaribe e não visitar a famosa barragem de Santana. Banhar-se nas águas que descem gravitacionalmente das suas inúmeras bicas é um prazer indescritível; e degustar o saboroso peixe frito do Barto, é uma obrigação.
Jaguaribe também entrou na era da automação, pois até universidade pública semipresencial faz parte do rol das instituições de formação. A UAB já tem formado dezenas de competentes profissionais. Foi ela a responsável pelo meu pioneirismo como professor de língua espanhola na região. “¡Pues así son las cosas de la vida de la gente!”. Mas há também desconforto com a tal tecnologia digital e o desenvolvimento, pois não se usufrui mais do confortável seletivo da Vale do Jaguaribe. As vagas para a capital são disponibilizadas por um portal online e os espaços tão apertados das poltronas só são adquiridos quando não são preenchidos no Cariri. Uma das coisas que pode confortar viagens tão desconfortáveis é uma agradável leitura deste veículo de comunicação, Arautos do Vale. Já na casa das octogésimas edições, que circulam mensalmente, pode proporcionar uma agradável e intelectual leitura do ócio e da informação. Colunistas como, Efigênia Alves, Osmar Negreiros e muitos outros que enriquecem este periódico, se esmeram na produção de riquíssimos textos, dignos da produção de uma obra literária a ser registrada nos anais culturais de Jaguaribe. Por tal iniciativa desbravadora, parabenizo Sandoli Diógenes, filho e filhas; por arvorarem essa bandeira da difusão jornalística.
Despeço-me de Jaguaribe, cônscio do aprendizado e da maturidade aqui adquiridos, agradecido pelos rebentos gerados neste torrão e guardando em minha memória a cultura do filé, do queijo, das famílias e das variações linguísticas tão peculiares, que sempre utilizarei como exemplo em minhas tão singelas aulas. A antiga “cafona” (nosso dindim gourmet), mesmo não podendo degustá-la por causa da diabetes, será sempre retomada nas salas de aula da vida. Valeu Jaguaribe!
Francisco Fernandes

Jaguaribe, 10 de setembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário