sábado, 18 de abril de 2020


A Religião no Trono

Algo tem me inquietado muito nestes últimos dias. Sou cristão desde 1988, quando fiz minha profissão de fé, e desses dias até aqui foram muitas as aberrações “teológicas” que vivenciei, como: surgimento de dentes de ouro durante cultos de oração; “pastores” derrubando fieis com o toque do paletó; cultos de gargalhadas “santas”; o voto de raspar a cabeça, feito pela “apostola” Valnice Milhomens; a teologia relacional do Ricardo Gondim; surgimento de grandes igrejas-empresas; mas nada se demostrou tão terrível que a comprovação do poder político de alguns líderes protestantes, que têm sua maior representação na figura do autointitulado, “bispo” Macedo. Este, outrora execrado pela maioria dos demais líderes, parece ter conseguido uma adesão em massa aos seus ideais sacerdotalistas, em que o “Brasil para Cristo” depende de uma ação política, quando “sacerdotes” representantes do “povo de Deus” assumem o poder, levando seus adeptos a uma consciência insana de polarização, em que, pensamentos contrários são taxados de reacionários, esquerdistas, comunistas. Tal sacerdotalismo é um verdadeiro aviltamento do conceito bíblico de sacerdócio, pois do ponto de vista cristão, o sacerdócio é individual, partindo do indivíduo regenerado para o todo, gerando vida pela pregação: “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. 1 Pedro 2:4,5.
Esse afã dos religiosos por poder me fez viajar um pouco pela história da religião e se conclui que sempre que houve aliança entre religião e estado, os resultados foram desastrosos. O que acontece nessas alianças talvez seja um sentimento de saudosismo ao estado judeu (já perceberam a fixação que tais religiosos têm pelo estado de Israel), em que a fé mosaica não era simplesmente a religião do estado: ela era, pelo menos até o início da monarquia, o próprio estado. A religião monoteísta de Iavé, com as suas numerosas leis e instituições, regulava todos os aspectos da vida dos israelitas, individuais e coletivos. É bom entender “Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. Colossenses 2:17. O governo teocrático mosaico é um tipo de Cristo. Ele é o sumo sacerdote e o seu reino é espiritual. Na Roma imperial, o imperador era também sumo sacerdote da religião do estado. Por interesses políticos, César Augusto ordenou a restauração dos templos e do antigo culto aos deuses. Ele também iniciou a verdadeira religião da Roma pré-cristã: o culto ao imperador. O cristianismo surgiu nesse contexto. Em uma relação tensa entre os judeus e o Império Romano. Jesus ensinou claramente o princípio da separação entre os dois reinos com a declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” Mateus 22: 21. No seu nascimento e na sua morte, Jesus experimentou a ira dos poderes constituídos, porém o seu maior conflito foi com o sistema religioso, não com o sistema político: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”. Mateus 23: 27. São esses mesmos hipócritas que desejam sentar-se no trono do Planalto e governar um Brasil para Cristo, sem regeneração, sem vida cristã, embriagados pelo poder. Isso é muito característico aos princípios de um governo anticristo, muito bem descrito em Apocalipses, dentro da visão do “já” e do “ainda não”. O compromisso maior dos cristãos é com Cristo, o Senhor: “E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. A sua verdadeira pátria está nos céus: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,” Filipenses 3: 20. Isso relativiza a importância do estado e de todas as instituições humanas. Dá para compreender o desejo ao poder político de Macedo e seus comparsas, entronando um bobo da corte?
No terceiro século da era cristã, Constantino declarou-se cristão por atribuir sua vitória em uma batalha à ajuda do Deus dos Cristãos. Começou o engano que resultou no surgimento da igreja romana, quando “cristãos” despertaram para o fato de que a causa de Roma e a causa de Cristo haviam se tornado uma só. Constantino havia se tornado o pontifex maximus. Ele e seus sucessores também afetaram a vida da igreja, fazendo grandes concessões a si mesmos e aos seus líderes, ao mesmo tempo em que reprimiam o paganismo (pura hipocrisia). As décadas seguintes viram as constantes ingerências de Constantino e dos seus filhos nos assuntos internos da igreja (qualquer semelhança é mera coincidência) e a igreja iniciou a prática de recorrer às autoridades civis para impor as suas decisões. “Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis”. 1 Coríntios 6:5, 6.
A reforma protestante surge por causa da cumplicidade entre estado e igreja, danosa para a vida moral e espiritual da cristandade. Ela rompeu em muitos países a aliança entre estado e igreja católica, mas inferiram no mesmo erro, surgindo várias igrejas estatais. A igreja da Inglaterra acreditava que “não havia nenhum membro da Comunidade que também não o fosse da Igreja da Inglaterra”. Ainda que Calvino procurasse fazer uma clara distinção entre as esferas de ação da igreja e do estado, em Genebra, a implantação da Reforma teve uma forte conotação política. A Igreja Reformada de Genebra era uma igreja estatal e durante a maior parte do seu ministério, Calvino teve sérias dificuldades com as autoridades civis. Os anabatistas e outros reformadores insistiram, a partir do seu entendimento das Escrituras e das suas próprias experiências, na necessidade da completa separação entre a igreja e o estado. A sua posição pareceu tão anárquica naquela época que eles foram duramente perseguidos por todos os outros grupos, protestantes e católicos. As disputas territoriais entre luteranos e católicos resultaram num período de guerras que terminou em 1555 com a Paz de Augsburgo, que deu legalidade ao luteranismo. A tentativa de um grupo anabatista radical de implantar uma teocracia na cidade de Münster, resultou em violência e mortandade (1532-35). Tudo isso foi consequência de pensamentos sacerdotalistas que a “igreja” protestante brasileira parece almejar.
O mais estranho é acreditar que um ímpio seja o instrumento de Deus para a concretização desse plano de aliança entre igreja e estado. É obvio que não podemos negar a soberania de Deus em determinar a eleição do ímpio. São muitos exemplos na história bíblica. Um desses exemplos mostra claramente que às vezes Deus colocará líderes terríveis em posições de grande poder com o claro propósito de realizar seus planos. Certamente, isso ocorreu com o faraó do êxodo, cujo coração Deus endureceu uma e outra vez até o Egito ser humilhado por tratar mal Seu povo, Israel. Deus enviou Moisés para dizer a Faraó: “Mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o Meu poder, e para que o Meu nome seja anunciado em toda a terra” Êxodo 9: 16. Deus está diretamente envolvido na escolha de indivíduos a posições muito proeminentes. Ele inspirou o profeta Isaías a anunciar, com antecedência, a ascensão de Ciro, o Grande, ao poder para cumprir Seu propósito: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão”. Isaías 45:1. E um século e meio depois, Deus colocou Ciro sobre o Império Persa. Noutra ocasião, Daniel declarou: “Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força; E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos”. Daniel 2: 20, 21. O apóstolo Paulo, aos cristãos que viviam na capital do Império Romano, escreveu: “Nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas nos seus lugares por ele”. Romanos 13: 1. O próprio Senhor afirma que a ascensão de Pilatos ao poder foi determinação divina: “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem”. João 19:10,11. Então, isso significa que Deus determina ascensão ao poder de qualquer líder com todas as suas falhas e fraquezas. Significando que Deus tem um propósito para a humanidade, um propósito para os eventos atuais, e Ele realizará esse propósito através da liderança que Ele colocar naquela posição, não os inocentando de suas responsabilidades. São duas doutrinas que só se encontrarão na glória, Soberania Divina e Responsabilidade Humana. Embora as Escrituras mostrem que é Deus realmente decide quem será o governante oficial de uma nação, também permite que as pessoas escolham governantes que não compactuam dos valores ensinados nas Sagradas Escrituras. A decisão de Deus quanto a ímpios no poder, não inocenta a impiedade deste, nem a má escolha do povo. Em certa ocasião, Ele criticou Seu antigo povo escolhido com estas palavras: “Israel rejeitou o bem; o inimigo persegui-lo-á. Eles fizeram reis, mas não por mim; constituíram príncipes, mas eu não o soube; da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para si, para serem destruídos”. Oséias 8: 3, 4. Isso não é contradição. É a relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana. São as Escrituras mostrando suas duas óticas, a que se direciona dos céus ao novo homem e a que se dirige do novo homem aos céus. “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. Filipenses 2: 13. É Ele quem opera o querer no cristão e este continua sendo volitivo. O apóstolo Paulo dá este excelente conselho aos cristãos que questionam o que pensar e fazer quanto aos seus governantes: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. 1 Timóteo 2:1,2. Não significando que devem fechar os olhos às suas iniquidades, tampouco suas bocas para denunciar seus pecados e anunciar o arrependimento em Cristo Jesus. Oremos pela regeneração dos governantes e que não enveredem pelas veredas da religião, do sacerdotalismo.

Francisco Fernandes
18 de abril de 2020


Referências bibliográficas:
https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/igreja-e-estado-uma-visao-panoramica/
http://ideiadereflexao.blogspot.com/2012/07/sacerdotalismo-evangelico.html
https://portugues.ucg.org/revista-boa-nova/deus-e-quem-escolhe-os-governantes-das-nacoes

sexta-feira, 17 de abril de 2020



Meus velórios

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. Assim Machado de Assis faz a dedicatória do seu clássico romance, Memórias póstumas de Brás Cuba. Achava totalmente bizarra a expressão do literato, como também o fato de alguém poder narrar sua própria vida depois de morto, até que tive que morrer para perceber que fui ao meu próprio velório. É! Fui ao meu próprio velório. Morri no dia 27 de março de 2020, em meio a uma terrível pandemia. A crise do Novo Corona Vírus. Decretos governamentais determinavam o isolamento social para conter o horrível poder de contaminação da peste. Naquele terrível dia sombrio, às 15h da tarde parti do mundo dos viventes e poucas horas depois tive que ser sepultado, aproximadamente às 19h. Não tive velório porque as leis de contenção do vírus proibiam qualquer tipo de aglomeração. Poucas pessoas estavam comigo naquela última despedida. Apenas poucos familiares e alguns amigos, levando em conta a minha grande popularidade na cidade que me acolheu como cidadão, Jaguaribe. Urbe não menos amada que minha querida terra natal, Icó, e Orós, onde comecei a construir minha família. Mas não fiquei triste, pois a presença na minha própria sentinela se fez quando, no decorrer de muitos anos fui um assíduo frequentador de velórios. Quando participava das preces feitas naqueles mórbidos momentos, era como se tivesse realizando-as a mim mesmo. Ao observar um jovem senhor triste, que chorava ao lado de uma urna funerária, era como se tivesse vendo Zé meu, despedindo-se do seu querido e velho pai. Aquelas mulheres fortes e aguerridas, que consolavam sua velha mãe, sentada em uma cadeira de balanços eram como se fossem Neném e Eneida Regina, afagando minha amada Socorro. Os velórios mais marcantes eram aqueles em que o finado se acompanhava de uma grande prole. Via-me rodeado, não somente dos que saíram das minhas entranhas, mas de todos os que a vida me deu o prazer de acolhê-los; Zefinha, a primogênita Rafaele, a caçula; e todos os muitos que compõem minha progênie. Afinal, a Palavra de Deus afirma que bem-aventurado é o homem que enche de filhos a sua aljava. E Derblin, meu caçula? O via naqueles jovens órfãos de pai, que não se consolavam com a grande perda do seu patriarca. O clímax dos meus velórios era quando o féretro saia rua a fora, carregados por filhos, genros, netos, bisnetos e os verdadeiros amigos, passavam pelo comercio da cidade, na rua principal onde trabalhei por muitos anos com a minha saudosa Loja Padre Cícero e recebia a homenagem dos comerciantes ao baixarem as portas de suas lojas. Esse tributo também era meu! Receber os punhados de terra, terra molhada, pois não há morte melhor do que aquela que acontece num inverno farto. É uma das melhores dádivas a um velho sertanejo. Quantas e quantas vezes tive que acompanhar, debaixo de chuva, os meus muitos velórios? O pó que cobre meu corpo neste momento tem o cheiro de chuva, de mormaço, sonho de todo cearense. Ocasião que me faz reviver o olor da poeira da futura Brasília que ajudava a construir como candango e a cor avermelhada do pó que manchava minha pele ressequida, ao auxiliar na construção do meu velho açude do Orós. Areia, poeira, pó. Voltei ao pó, como do pó eu vim, mas volto feliz por causa dos meus muitos velórios.
Eli França Landim

Por Francisco Fernandes
Jaguaribe 27 de março de 2020

segunda-feira, 15 de outubro de 2018



Nem um til, viu?

Tomei conhecimento de uma descoberta que mudará a história da cristandade. Talvez algumas pessoas fiquem perplexas com ela, mas é necessário que seja repassada, pois é um assunto de relevante importância ao mundo cristão. Não deixem de ler até o final, uma vez que sua vida cristã pode sofrer uma mudança radical. Descobriu-se que a Bíblia, livro usado pelas religiões chamadas cristãs, nas suas versões traduzidas por João Ferreira de Almeida e usada pelos evangélicos brasileiros, publicada pela primeira vez em 1681, a partir do Textus Receptus e do texto hebraico Massorético é uma grande farsa. A descoberta prova que muitos textos falados por Cristo e pelos apóstolos, segundo as traduções para o português, foram totalmente adulterados. Fiquei muito decepcionado com isso e não sei mais como conseguirei seguir como evangélico, se a maioria dos textos que me embasavam não me foram passados corretamente. A versão verdadeira para o texto de Mateus 5: 38 e 39 é a seguinte: “Ouça o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Torture o homem mau. Se alguém lhe ferir a face direita, estando você de posse a uma arma, atire-lhe na testa, não nas pernas”. Outro texto equivocado encontra-se em Mateus 26: 52, por ocasião da prisão de Jesus: “Então Jesus lhe disse: Use da espada para defender-me; porque os que não o fizerem, à espada morrerão”. A verdadeira tradução dos originais bíblicos foi divulgada neste período eleitoral brasileiro por meio de alguns teólogos defensores da “moral e dos bons costumes”, daqueles que são capazes até de soprar no cano do revólver, após detoná-lo. Um texto que me deixou mais perplexo ainda foi o que diz respeito a nossa cidadania. Antes acreditava que não era desse mundo, que minha cidadania era celestial, mas a verdadeira versão de João 15: 19, diz: “Vocês são cidadãos do mundo e o amor a ele lhes fará, por força ou violência, instaurar o meu reino na terra (em nosso caso, Brasil)”. Não era de acordo com a ideia sacerdotal de crer na ascensão da igreja ao governo, pois houve outros exemplos na história e as consequências foram desastrosas. Com a descoberta da verdadeira versão bíblica, que devo fazer? Devo embarcar na mesma ideia da maioria dos que se dizem cristãos no Brasil?

Sempre acreditei que o capítulo 13 de I Coríntios, aquele que fala do amor, mesmo sabendo da sua complexidade em cumpri-lo, fosse daquele jeito mesmo. Grande foi o meu desapontamento em saber que Paulo não escreveu aquilo. Consta na nova descoberta que o seu original é assim: “Eu falo a língua dos homens. Ela diz que bandido bom é bandido morto. Eu conheço todos os mistérios e ciências políticas, não é com amor e com pregação que se resolverá o problema do homem. Eu tenho muita fé que todas as mazelas do mundo devem ser resolvidas com austeridade, com força, pois me foi dado o poder de jugar e condenar o pecador. Não sofra, não suporte, não espere. Resolva com suas próprias mãos.” (I Coríntios 13: 1-7).

O mais incrível foi saber que na verdadeira versão da suposta tentação de Cristo, a coisa aconteceu ao revés. Não foi o diabo quem ofereceu os governos do mundo a Cristo, se ele o adorasse. Jesus procurou a sua ajuda para governar e resolver os problemas político da humanidade, inclusive da fome: “Disse Jesus ao diabo: a humanidade vive de pão. Transformemos pedras em pães e, associados, resolveremos todos os problemas.” (Lucas 4: 3-4).

E a cruz? Foi só um acidente de percurso. Não era necessária no plano da salvação. Para que morrer? “Disse Jesus: Moisés levantou a serpente no deserto, mas para que vocês tenham êxito neste mundo, não posso ser levantado.” (João 3: 14-15). O plano de salvação do mundo foi pelo ralo, segundo o novo pensamento que tem como base a versão bíblica descoberta. “Chegou a hora de colocar, de fato, o plano em prática!” Creem os adeptos da versão descoberta.

Como os textos citados, são muitos os que mudarão a história da cristandade. Cristãos subirão ao poder, jugarão vivos e mortos, terão o poder de mandar direto para o inferno ou para o céu, agora sem necessitar da Cruz, polarizarão o mundo. “Não assumir o poder conosco é assinar a confissão de esquerdistas, de reacionários, de ímpios, é a morte!”. Dirão os novos donos da verdade. Permaneceremos com a versão secular ou acreditaremos na nova “descoberta”? Lembre-se: Nem um til, viu?

Francisco Fernandes
22 de setembro de 2018

Referências utilizadas:
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; Mateus 5:38,39
Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Mateus 26:52
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. João 15:19
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios 13:1-7
E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus. E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás. Lucas 4:3-8
E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:14,15

quarta-feira, 16 de maio de 2018

EU

Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim; já dizia Dorival Caymmi na “Modinha para Gabriela”, eternizada pela novela global. Achei incrível a declaração de um amigo, quando viu uma senhora a observar um berçário e chamar os seus ocupantes de “anjinhos”. Para ele não eram “anjinhos” e sim, “cobrinhas”, nasceram assim. Nasci uma serpente, isso afirma o salmista ao dizer que, alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras; têm veneno semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda...  Minhas ações confirmam isso. Sou herdeiro de uma geração má, destituída de bondade, amor, perdão, misericórdia, e cheio de justiça própria. Justiça que o profeta compara a panos sujos de menstruação. Que justiça, em?! Como posso dizer que sou justo? Não posso, pois, aos romanos, São Paulo diz: Como está escrito; Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram... Assim me descobri! Sou semente de uma geração inimiga da semente divina, e não vejo solução humana para a resolução desse problema existencial. Não há como mudar a cor do etíope. Lembram-se do lendário rei do Pop, Michael Jackson? Muito menos modificar as manchas do leopardo. Minha maldade é inerente. Tentei encontrar, de todas as formas, um meio de coibir o mal que há em mim, tudo em vão. Busquei na religião, mas somente encontrei líderes que me enganaram e cujo seu deus é o próprio ventre; e pessoas que, presunçosamente, oravam desta forma: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens...” Tentei a solução na filosofia, mas descobri que a ciência me inchou e me tornou, prepotente e “superior” aos outros. Arrisquei na política, porém, com a intenção da governabilidade, envolvi-me na corrupção. Decidi ser ateu e descobri que não passo de um néscio achando que não há Deus, mesmo diante dos seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, claramente vistos na criação. Ai de mim! Miserável homem que sou!
Diante de inúmeras tentativas entrevi uma luz lá no final do túnel! Um sábio contemporâneo nos proporcionou uma pérola, daquelas que surgem inesperadamente, quando já se tentou de tudo para solucionar o mal da humanidade: “Bandido bom é bandido morto”. Já havia escutado outra bem parecida: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. De fato, um morto não pode segui-lo! Mesmo assim prefiro a frase do intelectual, pois é mais incisiva e meche diretamente com o cerne do problema. Mata! Não cumpriu a lei, executa! Às adulteras, apedrejamento; aos ladrões, mãos decepadas; aos estupradores, castração. Sinto muito pela decepção ao notável e a seus discípulos, mas todas essas formas de punição já foram testadas e com frustração, pois nunca resolveram o problema do caráter humano.
Descobri que sou “bandido morto”! Não porque a tal frase de efeito tenha causado implicação em minha vida, pois não fora cunhada com a mesma conotação que a compreendo, mas porque estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, estou morto. Deus tem dessas coisas; às vezes usa jumentas para falar e, se possível, até pedras a clamarem, mas a essência da minha mudança foi anunciada pela Palavra de Deus, quando revelou o meu batismo na morte e ressurreição de Cristo, a minha morte, a morte do EU.        
Texto que inicia a série “Eu, tu, ele, nós, vós, eles, em CRISTO?”
16 de abril de 2018
Francisco Fernandes

sexta-feira, 30 de março de 2018




Cidade Futuro, Ano novo, Velha Tradição

Em toda mudança de ano nos enchemos de novos planos, planejamos novas empreitadas, empreitamos novos desafios e desafiamos a criatividade. A mesmice não é legal, o espírito do ano novo nos enche de esperança e todos queremos coisas novas, prosperidade, saúde, ser felizes. Imbuído desse sentimento e analisando o slogan que traz a gestão municipal “Jaguaribe Cidade Futuro”, pensei cá com meus botões, por que não fazer uma série de mudanças em alguns nomes de lugares e de pessoas, que talvez soem mal para uma cidade futurista? Na Jaguaribe Futuro não ficaria legal nomes como Rua da Gaveta e Rua do Riacho, sugeriria Alameda do Cacifo e Bulevar do Ribeiro. Daria um ar mais parisiense para a cidade. Uma cidade moderna com um conjunto de pontos comerciais chamado Calor da Bacurinha é, no mínimo, ridículo. Poder-se-ia substituir por um nome mais científico para ocultar o sentido malicioso, como por exemplo, Centro Comercial Ardência no Regaço. Novos bairros surgem e os antigos não deveriam mais manter seus nomes pitorescos. O bairro Curralinho poderia chamar-se Vivenda Pequeno Aprisco. O distrito de Feiticeiro se chamaria de Distrito de Hierofante, ocultaria o significado obscuro do nome. Mudanças são necessárias a uma cidade que cresce.
Imaginem chegando alguém ao aeroporto municipal e tomando um táxi com o Mané Malassada, ainda que já esteja aposentado, ou com o Meia-luz. Seria mais chique ter como taxista o Sr. Manuel Tortilha, algo mais próximo do espanhol, ou o Sr. Penumbra, menos jocoso. Consertar seu relógio no relojoeiro e cartunista Francisco Delgado, nome de artista hispânico, seria muito mais elegante que ir à oficina do Chico Tripinha. Almoçar no restaurante do Sr. Francisco Abastado seria muito mais apetitoso que comer na churrascaria do Chico Rico. Comprar bebidas finas no minimercado do Sr. José Distraído seria mais requintado que comprar um litro de vinho na bodega do Zé Lesado.
Não acredito ser legal para uma cidade desenvolvida, um restaurante chamado Maria da Caboca. Imaginem o nome “Restaurante A Legatária da Mestiça”. Que nome fino! E uma fábrica de reaproveitamento de caixas velhas, com o nome de Sopapo, de propriedade de um cara chamado Nego Véi? Jamais deveria encontrar espaço numa cidade de primeiro mundo. Seria chiquérrimo, visitar uma cidade hiperdesenvolvida, comprar uns souvenires em seu centro comercial e embalá-los em caixas recicladas confeccionadas pela Solavancos Reciclagem, de propriedade do Sr. Afrodescendente Idoso. 
Tudo isso seria politicamente correto e uma verdadeira IDIOTICE. É fato que almejamos boas mudanças para 2018, e que Deus nos conceda, mas ser escravizado por tal ditadura é deprimente. A cidade cresce, os projetos podem até ser visionários, mas as tradições, ainda que infrinjam alguns conceitos pós-modernos, manter-se-ão. Sempre serão, rua da gaveta, rua do Riacho, bairro Curralinho, distrito de Feiticeiro. Mesmo quando não estiverem mais entre nós, as personagens sempre serão, Malassadas, Marinheiros, Meia-luz, Zé Lesado, Chico Rico, Maria da Caboca, Chico Tripinha, Nego Véi, as que farão parte do patrimônio imaterial de Jaguaribe.    
Francisco Fernandes
https://cronicaeuconto.blogspot.com.br/
29 de dezembro de 2017

sábado, 11 de novembro de 2017

Falsos Amigos

Em um contexto político, Falsos Amigos seriam os membros daquela raça ignóbil, que de quatro em quatro anos passeiam nos terreiros eleitorais para, mentindo, conquistar votos. Falsos Amigos pode ser também o sinônimo de palavras que até são semelhantes, mas, no entanto, significam outra coisa aqui no Brasil.
Se você for para um restaurante em um país de língua espanhola e chamar um “camareiro”, não estará chamando uma pessoa para arrumar sua cama, mas um garçom. Não peça um copo com água, peça um “vaso”, pois “en una copa” você deverá tomar um bom vinho e, “en una taza”, um saboroso café. Se quiser elogiar um prato, poderá dizer, sem medo, que está “muy exquisito”. Não se preocupe, não estará dizendo que está estranho, mas que está saborosíssimo.  Após a refeição não comerá uma sobremesa e sim, “un postre”, pois “sobremesa” é o bom papo que os comensais batem após saborear uma boa receita. Deverá ter muito cuidado com os Falsos Amigos, pois eles poderão criar sérios constrangimentos. Quando eles dizem que, sendo eleitos, resolverão os problemas sociais das crianças, podem estar referindo-se aos seus próprios filhos. Se dizem que solucionarão os problemas de moradia, podem estar pensando em como comprar sua mansão em Orlando - Flórida, ou em um paraíso caribenho. Cuidado com os Falsos Amigos!
Um colega, professor de espanhol do Centro de Línguas de Maracanaú, perguntou a um aluno de primeiro semestre onde se localizava La Paz. Ele respondeu muito carinhosamente: “¡La paz está en mi corazón, profe! Gostaríamos que nosso país vivesse a paz tão desejada, em todos os sentidos, mas ela foi surrupiada pelos larápios, Falsos Amigos, que deixaram de investir, principalmente na Educação e na Segurança Pública. Bem-aventurados aqueles que alcançam a verdadeira paz, a paz no coração!
Para nós, professores de espanhol, são muitas as situações inusitadas com os tais Falsos Amigos. Falava em uma aula com iniciantes que borracha em espanhol se diz “goma”. Um gaiato não hesitou em perguntar: Professor, se borracha é goma, como se faz tapioca na Espanha? No mesmo nível de humor, característico dos cearenses, um outro fez a seguinte interrogação: Profe, se menino é “niño”, como é leite em pó em espanhol? Essas são as confusões que há e que os alunos, graciosa e inconscientemente, utilizam como estratégia de aprendizagem. Os argentinos chamam de “quilombo”, os espanhóis chamam de “lío”, para nós pode ser embaraço. Cuidado! “Embarazo” em língua espanhola é gravidez. Será por isso que aqui no Ceará “um bucho” pode significar problema, confusão? Mas confusão mesmo é o que está ocorrendo na Catalunha - Espanha, com o secular movimento independentista que estourou nos últimos dias e, por incrível que pareça, vem incentivando o Sul do nosso país a falar também em referendum, para “alejarse” do Brasil. Opa! Mais um falso amigo, pois tal vocábulo significa, distanciar-se. Bem significativo, uma vez que aleijados mentais, falsos irmãos e Falsos Amigos são aqueles que se acham superiores ao restante dos brasileiros. Imaginem se o Nordeste se tornasse um país independente! Como viveriam os demais, sem nosso humor, nossa música, nossa literatura, nossas belezas naturais...?  
Francisco Fernandes

Jaguaribe, 12 de outubro de 2017

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Dindim Gourmet (continuação)

A aurora surge ainda com maior intensidade e o crepúsculo acontece com muito mais beleza, na cidade que já não é mais tão singela. Tranquilidade continua sendo um de seus atributos e a autoestrada federal ainda continua no mesmo local. Rio e BR já não são mais os limites leste / oeste e aquele, que antes palmilhava seus 610 km diretamente ao mar, agora desagua no imenso lago artificial com capacidade para 6.700.000.000mᵌ (seis bilhões e setecentos milhões de metros cúbicos) de água, o Castanhão.  Já faz 24 anos que pus pela primeira vez os pés na cidade do queijo e os dois postos de combustível não são mais os limites norte / sul da sede municipal. O açude de Feiticeiro não mais se apresentará como um quebra-cabeça de barro rachado, pois o grande Orós transpõem suas águas ao imprescindível reservatório. O Cruzeirinho de Aluísio Diógenes tronou-se um bairro saneado, construído em regime de mutirão e o Mutirão é agora um grande bairro engendrado pelo êxodo rural, inevitável nas cidades crescentes, mas capaz de decidir uma eleição municipal. Aquele que, desembestado em sua caminhoneta Pampa, corria em direção à sua recém-inaugurada loja na esquina da 8 de Novembro com a Cônego Mourão, agora é o maior empregador da região e um dos grandes empreendedores do estado. Fez da Tuboarte uma das referências jaguaribanas.
Acabou a disputa entre o Clóvis e o Carmela, pois as escolas do estado, Cornélio, Raul e Sinó, se firmaram com excelência na formação cidadã e do Ensino Médio e os jovens, que antes não tinham acesso à universidade, agora podem trilhar o tão sonhado caminho do sucesso profissional, já não mais exclusividade dos mais abastados. As batatas fritas do Miquinho foram substituídas pelos sushis, os sanduiches, os açaís e o que é de mais atual para o paladar jaguaribano, mas nada supera as saudosas coxinhas do Morais, literalmente com um ossinho de galinha em lugar do palito. Dizem que o peculiar sabor era resultado de um tacho que nunca era lavado. Que importava? A alta temperatura do óleo consumia qualquer impureza. Oxalá houvesse um grande tacho desses em Brasília, para consumir toda a impudência dos coxinhas políticos.  É também inadmissível vir a Jaguaribe e não visitar a famosa barragem de Santana. Banhar-se nas águas que descem gravitacionalmente das suas inúmeras bicas é um prazer indescritível; e degustar o saboroso peixe frito do Barto, é uma obrigação.
Jaguaribe também entrou na era da automação, pois até universidade pública semipresencial faz parte do rol das instituições de formação. A UAB já tem formado dezenas de competentes profissionais. Foi ela a responsável pelo meu pioneirismo como professor de língua espanhola na região. “¡Pues así son las cosas de la vida de la gente!”. Mas há também desconforto com a tal tecnologia digital e o desenvolvimento, pois não se usufrui mais do confortável seletivo da Vale do Jaguaribe. As vagas para a capital são disponibilizadas por um portal online e os espaços tão apertados das poltronas só são adquiridos quando não são preenchidos no Cariri. Uma das coisas que pode confortar viagens tão desconfortáveis é uma agradável leitura deste veículo de comunicação, Arautos do Vale. Já na casa das octogésimas edições, que circulam mensalmente, pode proporcionar uma agradável e intelectual leitura do ócio e da informação. Colunistas como, Efigênia Alves, Osmar Negreiros e muitos outros que enriquecem este periódico, se esmeram na produção de riquíssimos textos, dignos da produção de uma obra literária a ser registrada nos anais culturais de Jaguaribe. Por tal iniciativa desbravadora, parabenizo Sandoli Diógenes, filho e filhas; por arvorarem essa bandeira da difusão jornalística.
Despeço-me de Jaguaribe, cônscio do aprendizado e da maturidade aqui adquiridos, agradecido pelos rebentos gerados neste torrão e guardando em minha memória a cultura do filé, do queijo, das famílias e das variações linguísticas tão peculiares, que sempre utilizarei como exemplo em minhas tão singelas aulas. A antiga “cafona” (nosso dindim gourmet), mesmo não podendo degustá-la por causa da diabetes, será sempre retomada nas salas de aula da vida. Valeu Jaguaribe!
Francisco Fernandes

Jaguaribe, 10 de setembro de 2017