quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O vendedor de contrafações

Li na Bíblia que nos tempos de Jesus havia um homem chamado Zaqueu, corrupto cobrador de impostos. O seu encontro com o Messias foi tão impactante, que se redimiu dos seus erros e prometeu restituir o quádruplo de tudo que havia defraudado. Foi uma verdadeira cura de caráter e prova de que existe solução para o político brasileiro.
Nascido em uma família devotada às tradições políticas e filho de uma das mais influentes oligarquias de uma região do interior nordestino, “Justiniano Lícito” não perdeu tempo em ir à feira municipal, que acontece todos os sábados no centro de sua cidade, para vender ideias aos pretensos candidatos a cargos políticos.
_ Vamos lá, futuros políticos! Saibam como economizar dinheiro público sem cortar gastos.
_ Opa! Estou querendo entrar nessa de candidato, mas só embarco se continuarem as mesmas regalias de então.
_ Não há problemas, amigo! Temos aqui um pacote que garantirá seu futuro político.
_ Custa caro?
_ Nada! Pra nós, não! É só aumentar o tempo de serviço dos trabalhadores para 65 anos. Esperamos morrer a veralhada que está aí, então, vai ser só lucro.
_ Beleza! Quero um pacote desses, mas se não mexer na aposentadoria dos parlamentares, pois tenho que garantir que vou me aposentar cedo e com alto salário, e para isso a previdência tem que estar bem enxutinha.
_ Promoção, promoção! Reforma do Ensino Médio a preço de banana!
_ Ei, moço! Quanto custa essa reforma?
_ Pra nós, nada! Nem precisa aumentar salário, basta oferecer bonificações pelo desempenho dos alunos.
_ Funciona Bem?
_ Bem, bem, não! A gente sabe que o desempenho deles depende de muitos fatores: estrutura das escolas; acompanhamento das famílias e de psicólogos, pois sabemos que, na maioria das vezes, as famílias também são vítimas; formação continuada dos profissionais etc. etc.
_ Vou comprar algo que não funciona?
_ Não funciona pro povão, mas pra nós, sim! A gente economiza o dinheiro dos reajustes salariais e ainda joga a culpa do atraso da educação nos professores. Quem manda não serem médicos?
_ Vou levar! Faz um desconto?
_ Hummmm! Pode levar de brinde a ideia do “notório saber”. Você autoriza dentista que só sabe arrancar dentes a ensinar biologia, advogado de porta de cadeia a ensinar história, contador que não consegue clientes a ensinar matemática, então fica tudo bem! Nem precisa valorizar os licenciados de fato e de direito, e ainda resolve o problema de vacância.
_ Fechado!
Poderíamos clamar pela passagem de Jesus nessa feira, na casa e na vida desse vendedor de contrafações, para que não desempacote mais nenhum despautério desses, que não são poucos. De fato, Ele não passará, como fizera, literalmente, no tempo de Zaqueu, mas seus ensinamentos ainda reverberam com a mesma eficácia e intensidade na conversão de um ladrão. Caráter Cristão não é mérito do homem, mas de Cristo. Como diz Paulo aos filipenses, Ele é o único capaz de tornar o ser humano irrepreensível e sincero, filho de Deus, imaculado no meio de uma geração corrupta e perversa, entre a qual resplandece como luminares no mundo. É possível tal metamorfose? Tudo é possível ao que crer! Crendo, adeus Zaqueu defraudador, adeus vendedor de trambiques, adeus velho homem. Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (II Coríntios 5. 17)
Francisco Fernandes.




terça-feira, 27 de setembro de 2016

Nem mel, nem cabaça

A luta entre a razão e a emoção é o que descreve usualmente os conflitos internos, e originam um turbilhão de emoções e pensamentos incomodativos. É esse tipo de sentimento que está permeando as mentes honestas de pessoas que não desejam mais regressar às amarras da ditadura, muito menos ao neoliberalismo dos seus filhotes. Também não se sentem confortáveis com a teia de corrupção em que se envolveu a promessa salvífica dos trabalhistas do Brasil, aqueles que eram esquerda ao modelo anterior.
O sábio rei Salomão nos diz em seus provérbios, que são abomináveis, tanto quem inocenta o culpado, como o que condena o justo. Então, o que fazer? É o grande paradoxo da atual política brasileira. O que é melhor para o Brasil? Alguém que, mesmo sem provas concretas, surrupiou aproximadamente 3 milhões de reais para reforma de sítio e compra de apartamento ou aqueles que, ao longo de uma imensa carreira política, vêm aumentando seus patrimônios e engordando suas contas na Suíça? Parece que estamos entre uma fera faminta e um abismo. Este, feito de ilegalidades e alianças escusas, aqueles, famintos para saciar a fome de dinheiro público.
Somos, literalmente, vítimas do “nem mel nem cabaça”. Sem caixa dois do PT, nem FIES, nem ProUni, nem aposentadoria, nem reajuste de piso salarial. Com reforma do Ensino Médio, mas sem consulta aos profissionais da educação, nem aos técnicos, nem muito menos aos maiores interessados, pais e alunos. O “nem”, apesar de ser uma conjunção aditiva, é a adição do “não” (= e não). É a politica da conjunção “nem”.
José do Egito foi o maior exemplo de estadista da antiguidade descrita na Bíblia, pois se manteve incorruptível, ainda que a consequência fosse o cárcere. Como José, Daniel também teve grande destaque em terra estranha. Ele não se banqueteou com os manjares da Babilônia, coisa que nossos representantes, mesmo que bem intencionados, não têm autocontrole para eximir-se das influências do sistema neobabilônico. Assim, amargamos as consequências dos desmandos dessa raça de ladrões que usurpam, não somente os nossos bolsos, mas também a nossa esperança de liberdade.
O povo está exaurido por causa dos conflitos que vive. Em quem votar? Naquele que nem rouba, nem faz ou naquele que rouba, mas faz? Parece que não existe a opção NDA (nenhuma das alternativas). Na primeira não há possibilidades de continuidade política, mas na segunda há uma perpetuação da maquiavelice.
O que é melhor? A aditiva (nem) ou a adversativa (mas)? A esperança do estropiado povo brasileiro deve estar em outra conjunção, a alternativa “ou... ou”. Ou anda na linha ou... Já é hora de despertar para o uso da nossa mais poderosa arma, o voto!

Francisco Fernandes

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Mudinho?
Mudinho, nada! Conheci Antônio na minha escola e ele faz um excelente trabalho de acompanhamento ao aluno surdo. Chegou lá há pouco tempo e logo, logo, adquiriu a admiração de todos os profissionais dessa instituição, pois se comunica com todos e sobre tudo. Habla por los codos, para não dizer, fala pelos cotovelos! Como chamá-lo de mudinho? Esse termo caiu totalmente em desuso e já é comprovado que nem parede pode ser chamada de muda, pois escuta muito bem. Cuidado quando for falar algo secreto. As paredes têm ouvidos e falam até demais! Como é que se chama de mudinho, alguém que se comunica com todos e sobre tudo? Ah! Usei a expressão em espanhol porque meu amigo Antônio fala literalmente e se ouvires a sua voz, o confundirás com um nativo de língua espanhola falando em português. É muito belo!
Como foi que Antônio ficou surdo? A caxumba subiu! Há sempre algumas antíteses que as pessoas do “politicamente correto” consideram como preconceito: branco em vez de preto, liso em vez de enrolado, magro em vez de gordo, subir em vez de descer e etc. Nesta última o nosso amigo Antônio insiste em dizer que subir é melhor.
Acometido de uma doença viral chamada caxumba, que não mata, mas pode provocar a surdez devido o inchaço das glândulas salivares próximas aos ouvidos, ou também, a infertilidade por causa da inflamação dos testículos ou dos ovários; Antônio ficou surdo.
Ainda bem que subiu!!!
Depois de experimentar os sons, ele se deparou com o mundo do silêncio. A tristeza e a depressão foram suas companheiras por um longo tempo. A não aceitação foi terrível! O mundo lhe parecia sem graça, pois se tornou um marasmo onde a trilha sonora era muda aos seus ouvidos. Não era fácil enfrentar a vida!
A autoestima desceu!!!
Sempre inteligente, recebeu convites para trabalhar numa escola de sua localidade, mas se recusava por não se sentir à vontade com a condição de surdez.
A vida de Antônio tornou-se um sobe e desce danado, pois se deparou com um grupo de surdos conversando em língua de sinais, ficou fascinado, pois agora o mundo lhe sorria outra vez. Os sons, as vozes tinham formas, as formas que suas mãos podiam assumir.
A autoestima subiu!!!
Graças à surdez, Antônio pôde agregar novos valores, novos conhecimentos, uma realidade que transformou seu universo em algo melhor, concedendo-lhe oportunidades jamais antes vislumbradas. Como é que não se pode admirar uma pessoa dessas? Instrutor de LIBRAS da EMEIEF Dep. José Martins Rodrigues, aluno do curso de LIBRAS da Universidade Federal do Ceará, um cara amigo e admirado por todos, e além do mais, agora, motoqueiro!
Peço licença para falar um pouco do meu amigo Antônio, porque foi a primeira pessoa que lembrei, quando pensei em homenagear todos os surdos da nossa Escola neste dia que lhes pertence. Parabéns a todos os surdos! Parabéns Antônio!
Ainda bem que a caxumba subiu!


Francisco Fernandes  
Rafaiele Bernardo.

domingo, 25 de setembro de 2016

Que saudade dos pepinos...!

O dia amanheceu. Ela, cansada ainda da maratona de aulas do dia anterior, levanta rejuvenescida, capacidade sobrenatural que é dada a todos os professores, e abre sua Bíblia no capitulo 11 do livro de Números. O texto bíblico fala da saudade que os filhos de Israel tiveram dos pepinos, dos melões, das cebolas, dos alhos que comiam no cativeiro do Egito. Faz a sua oração matinal, toma seu desjejum habitual e sai para a assembleia na câmara dos vereadores de sua cidade, onde decidiriam o reajuste salarial tão esperado e prometido em campanhas eleitorais. Naquela plenária estava a esperança de melhorar o seu tão sofrido salário, que não é condizente com o importante papel que desempenha na sociedade. A multidão de professores em frente à câmara está em polvorosa. O presidente do sindicato, muito confiante, animava o grupo com a certeza de que suas reivindicações seriam aceitas pelos legisladores de seu município.
O presidente da câmara abre a sessão, lê a pauta para a reunião do dia, onde se inclui a tão esperada proposta de reajuste salarial a ser apreciada pelos vereadores. Tudo transcorre sem nenhum problema, até que, o inesperado acontece! A proposta salarial ofertada pelo executivo foi somente de um mísero 6%. A professora, estropiada das oito aulas que lecionara no dia anterior, chora copiosamente, e amargurada por tão grande decepção é remetida ao texto bíblico que houvera lido logo pela manhã – Os filhos de Israel sentiram saudades dos pepinos, dos melões, das cebolas, dos alhos que comiam no cativeiro do Egito. Estavam livres dos egípcios, mas a sua fé não era suficiente para garantir que seriam sustentados naquele deserto, até que chegassem à terra prometida. Estamos vivendo um verdadeiro deserto. Pedimos tanto a libertação do antigo governo, mas nunca pensei que sentiria saudades dos pepinos, dos melões, quero dizer, dos laranjas do nosso ex-prefeito – Refletiu.
Ela é professora há 25 anos. Formada em Letras e com duas pós-graduações, uma em literatura e outra em linguística, sem contar com os inúmeros cursos de formação, elaboração de itens do SPAECE e ENEM, formação para professores de redação para o ENEM, Profa, Pró-Letramento e os muitos curso em toda sua extensa carreira. Foi isso que a revoltou, pois um excelentíssimo vereador, um desses com um pseudônimo parecido com “Tiririca”, provavelmente analfabeto, soltou a seguinte pérola: “Vocês querem ganhar mais do que um médico?”. Talvez ele não se lembre de certo legislador que encerrou sua curta carreira política, quando, em uma dessas reuniões, mandou algumas professoras irem para detrás de seus fogões. Estão lembrados?
“É, senhor vereador! Queremos sim, ganhar tão bem ou até mais que um médico, pois eles passaram e passam por nossas mãos. Você não sabe a importância de um professor porque não precisou de um para pleitear sua vaga no legislativo. Talvez precise muito mais de um médico! Não se esqueça de que é melhor prevenir que remediar, e a melhor forma de fazê-lo é por meio da educação.” Pensou a professora.
Voltou para casa, triste, mas de nenhuma forma derrotada, pois logo foi revigorada pela lembrança de sua labuta nos muitos anos de sala de aula, que, certamente, lhe tem rendido muito mais frutos. Estes, não são os laranjas políticos, não são os pepinos do Egito, nem muito menos as alfarrobas dos porcos (propinas), mas umas ou outras vidas frutíferas que conseguem florescer, por meio da educação, nesse deserto de corrupção.

Francisco Fernandes
A mácula moral

Naamã era um general de grande prestígio em seu país. Porém, sofria de um dos piores males da sua época, a lepra, hoje conhecida por hanseníase. Essa denominação deve-se ao descobridor do microrganismo causador da doença, Gerhard Hansen. Ela é contagiosa, causando problemas dermatológicos, incapacidades e deformidade no corpo. Isso cabe certinho como tipologia para o pecado; mancha, podridão, separação, e é claramente descrito como a causa da separação entre o homem e Deus. Assim nos diz o profeta.
A tradição política brasileira, não excluindo a de nosso município, parece sofrer dessa praga fétida. Por esse motivo selecionamos o episódio bíblico da cura de Naamã, para entendermos como se processa essa relação de interesses entre candidatos e eleitores.
O general, descobrindo que havia uma possível cura em Israel, buscou o profeta para que fosse salvo do mal que o assolava. Ofereceu pelos seus serviços, ouro, prata, tecidos raros, coisa não tão diferente do jogo de propinas que se observa nas relações políticas. Pagar pela cura? Receber benefícios próprios pela venda do voto; esperar retribuição pelos deveres cumpridos; oferecer algo, esperando receber em troca; é bem característico da raça humana. O profeta não mandou fazer nada de espetacular para a obtenção da purificação. Somente mergulhar sete vezes no rio Jordão, que não seria nada dispendioso ao “grande” homem. Às vezes, são nas coisas simples que se encontra a grandeza e um homem de Deus teve essa experiência: “Veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento, houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa... Então Elias ouviu a voz de Deus”.
“Ele nem apareceu? Não impôs suas mãos sobre minhas chagas? Não poderia ser pelo menos nos rios da minha terra?” Não! Simplesmente no Jordão! Alusão minha a um riacho chamado humildade, a um ribeiro de disponibilidade para, honestamente, servir ao povo. Tomar da fonte da justiça; lavar-se da lepra moral que corrói os bons costumes desde idade mais tenra. Mas, preferem manter-se contaminados com as carcomas da corrupção, a viver na pureza da probidade. 
Naamã foi purificado, mas o profeta recusou receber os presentes, as propinas pelo serviço prestado. Haverá políticos que tenha consciência de receber somente o salário devido a seus cargos? Que não se deixam sujar com o tráfico de influência, tão comum a esse meio? Um secretário do profeta, sorrateiramente, transgrediu o princípio da integridade estabelecido por seu mestre e reivindicou o jabaculê ofertado pelo líder militar. A lepra de Naamã transferiu-se para o jovem.
A mácula da lepra moral é tão contagiosa, que até quem tem bons exemplos pode ser corrompido. O assédio ao “se dar bem” nas transações, às vezes, transcende os bons modelos, pois ser honesto em um contexto de desonestidade provoca indignação e exclusão daqueles que são exercitados por uma conduta imarcescível. Não deixemo-nos atrair pelas facilidades do ilícito! 
Francisco Fernandes


Baseado no texto bíblico de II Reis 5: 1-27

sábado, 24 de setembro de 2016

São todos iguais!

Tornou-se lugar comum na fala do povo brasileiro: Os políticos são todos iguais! A cada momento se desvela um novo escândalo. A oposição comemora a revelação da corrupção de um figurão do governo e este, regozija-se com a descoberta de um larápio, naquela. Chegamos ao ponto de contentamento com atitudes de gangsters que roubam, mas fazem. Que loucura!
Há um terrível conflito interior naqueles que, ávidos por justiça, tornam-se lívidos de vergonha, por serem obrigados a apertar o botão verde para número e imagem dos “menos ruins”. A tecla da vergonha!
Tornamo-nos incrédulos em relação à política nacional. Mas o que é fé? Na Bíblia diz que é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem. O que esperamos?! O advento de homens honestos, que salvarão a nossa pátria? O que vislumbramos?! A tão sonhada reforma política? Parece não haver mais confiança nos três poderes, pois abusam do poder.
Governantes são verdadeiros escravocratas de consciências, pois quando concluem obras públicas, em todas as instâncias, deixam patente a intenção de escravizar aqueles para quem deveriam trabalhar e de quem ganham. Escravizam a um sentimento de dívida pelo “favor prestado”. Não fazem mais do que suas obrigações!
Os que somos cristãos, sonhamos com a redenção desta criação. São Paulo diz que toda ela, conjuntamente geme e está com dores de parto até agora. Olha que isso foi há dois mil anos, imaginem a proporção dessa dor hoje, especificamente em nosso torrão.
Alguém me disse que estamos vivendo um grande avivamento cristão no Brasil, devido ao crescente número de “cristãos evangélicos” e suas respectivas denominações. Discordei por contemplar apenas um grande inchaço religioso. O amor ao dinheiro, fonte de toda a corrupção, invadiu o arraial daqueles que deveriam ser luz e sal do mundo. Envergonho-me desse “evangelho”!
Há salvação para esta nação? Todos esses males são inerentes ao brasileiro? É cultural? Sei lá!!!

Francisco Fernandes
Um Apólogo*

As árvores queriam um líder, urgentemente! Reuniram-se em conselho, lançaram edital, pesquisaram nas famílias mais abastadas da floresta e a ninguém encontravam que preenchesse os requisitos requeridos pelo grande conselho.
Talvez fosse uma utopia, mas as árvores queriam realmente um representante que governasse sobre elas honestamente, que não se comprometesse com os grupos empresariais; com aqueles que detêm o tráfico de influência; ou com as oligarquias formadas pelas famílias “nobres” como os Laranjas, os Limas, os Peras...
Os conselheiros da floresta saíram em busca de um governante que preenchesse as necessidades de tão importante cargo. Naquele tempo a nobreza da função política estava na possibilidade de servir a seus liderados, não em tirar benefícios próprios. Era honroso o atributo da humildade, em detrimento à jactância do poder, hoje.
Convidaram um representante da família Videira, especialista na produção do melhor vinho da região. Satisfazia-se em proporcionar a alegria dos povos e em aquecê-los nas noites frias de inverno, pois essa iguaria não poderia deixar de ser produzida em troca do serviço público, haja vista seu néctar ser algo muito sublime. “Agradecida por tão honroso convite, mas não posso deixar meus atributos para governar sobre vós”.
Não poderiam deixar de convidar um dos membros da família Oliveira para governá-las, considerando a sua destreza em produzir, de suas azeitonas, o mais refinados de todos os azeites. Este, muito útil como combustível para as lâmpadas; excelentíssimo na purificação de ferimentos; e finíssimo para a mistura do trigo, na produção dos mais saborosos pães. “Não será possível deixar tão importante atribuição, para exaurir-me no serviço político”.
A última alternativa era apelar para alguém da família Figueira. Ela teria muitos atributos para ser uma espetacular chefa de governo. Produz frutos saborosíssimos e, além disso, os seus pomos proporcionam os mais saborosos doces. Os afáveis produtos da figueira adoçam a vida de nobres e plebeus. Quem não gosta de saborear um dulcificado manjar de sobremesa? “Não! Sinto prazer em servir a todos com o meu mélico fruto. Não posso ausentar-me de minhas funções, para liderar as árvores”.
Incrível! Quando aqueles que podem oferecer seus serviços em prol do coletivo se negam, aparecem os aproveitadores. Estes se disponibilizam aos cargos sem atributos a ofertar, pois intencionam somente beneficiar-se da posição pública. Como não surgiu um candidato competente, o Espinheiro ofereceu-se para liderar todas as árvores e as ameaçou de lançar seus espinhos, sufocá-las enroscando os tentáculos espinhosos em seus caules, causando-lhes a morte, caso não o reconhecessem como seu potentado.
A classe política brasileira é muito bem tipificada por esse espinheiro. Nós, simples cidadãos, nos sentimos sufocados pela corrupção e incapacitados de recusá-los como líderes, pois seus espinhos eleitoreiros estão fincados na cultura política da nossa nação. Líderes em potencial, honestos, capazes, de condutas ilibadas, parecem não ter coragem de assumir cargos políticos, pois temem emaranhar-se nas teias da desonestidade, um sistema que insiste em se perpetuar como especialista no cárcere das consciências.  Ad retro.

Francisco Fernandes
*Paráfrase do Apólogo de Jotão (Juízes 9.7-15)




 
35:12 ou 12:35?

Nas redes sociais estão “bombando” as preferências político-partidárias de alguns jaguaribanos. Vermelhou o 12 ou azulou o 35? Qual a legenda a se escolher para a foto do perfil? Há critérios para a seleção de tão importante representante político que irá gerir o município por quatro anos ininterruptos? Que intenções estão por trás de eleitores e elegíveis? Isto talvez seja a principal causa do desmando político que assola a nossa nação: o jogo de interesses que permeia essa relação despontada apenas de quatro em quatro anos.
É, amigos! Falta-nos bom senso como eleitores e boa consciência dos que se sagram como oferta à salvação política do município, pois estamos imersos em um sistema político maculado pela desonestidade, pelo mercantilismo do voto, pela retaliação àqueles que não têm a “sorte” de votar em quem se elegerá. Sobe às mentes incautas o frenesi dos 45 dias de campanha e desce pelo ralo uma fortuna em reais. O sistema político brasileiro nega-nos a oportunidade de optar por candidatos desprovidos de abastança, ainda que todo eleitor seja um candidato em potencial. É-lhe tolhida a oportunidade! Falta-lhe o “cacau”!
Observando a “pelea” eufórica nas redes sociais, 35 ou 12, 12 ou 35; vieram-nos em mente algumas referências bíblicas. Não somos daqueles que se utilizam das escrituras como “horóscopo”. Que abrem a bíblia em textos isolados, acreditando que Deus esteja falado especificamente. Cremos na Bíblia como Palavra de Deus em toda a sua completitude e que a sua fala está sempre dentro de um contexto, pois quem ler um texto bíblico sem olhar o contexto, está em busca de um pretexto. Ainda assim, intentamos fazer um trocadilho com os números desta campanha. Observamos o Salmo 35 no versículo 12 e olhem o que encontramos: “Pagam-me o mal pelo bem, causando-me luto na alma”. O salmo 35 é um lamento da parte de alguém cuja vida estava sendo ameaça e o texto citado, versículo 12, configura-se o cúmulo da injustiça. Espera-se sempre o melhor daqueles a quem se confia o voto. Não se espera, jamais, mal pelo bem, corrupção, retaliação, perseguição ou qualquer atitude inescrupulosa de quem se almeja que pratique o bem para a coletividade.
A política partidária brasileira tem sido um mal, um câncer, uma gangrena que carcome as boas intenções. Esperamos que a minoria bem intencionada não seja consumida pela maioria doente. Jesus Cristo nos afirma em Mateus capítulo 12, versículo 35, que “O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más”. Será que nesse ambiente tão fétido poder-se-á garimpar um político bom, disponível a tirar do seu bom tesouro, da sua consciência, das suas intenções, coisas boas? Que esteja realmente disposto a sacrificar quatro anos para empenhar-se no bem-estar dos seus concidadãos?
A nossa atual situação político-econômica nos torna incrédulos em relação à classe política. Não são os números, as legendas, os partidos, que solucionarão as mazelas do povo. O apóstolo tinha um temor em relação aos cristãos coríntios: “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo”. Olhando pelo prisma bíblico, a solução não seria a simplicidade e a pureza de Cristo? Afinal, todos nos nomeamos cristãos!  
Francisco Fernandes