segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Mudinho?
Mudinho, nada! Conheci Antônio na minha escola e ele faz um excelente trabalho de acompanhamento ao aluno surdo. Chegou lá há pouco tempo e logo, logo, adquiriu a admiração de todos os profissionais dessa instituição, pois se comunica com todos e sobre tudo. Habla por los codos, para não dizer, fala pelos cotovelos! Como chamá-lo de mudinho? Esse termo caiu totalmente em desuso e já é comprovado que nem parede pode ser chamada de muda, pois escuta muito bem. Cuidado quando for falar algo secreto. As paredes têm ouvidos e falam até demais! Como é que se chama de mudinho, alguém que se comunica com todos e sobre tudo? Ah! Usei a expressão em espanhol porque meu amigo Antônio fala literalmente e se ouvires a sua voz, o confundirás com um nativo de língua espanhola falando em português. É muito belo!
Como foi que Antônio ficou surdo? A caxumba subiu! Há sempre algumas antíteses que as pessoas do “politicamente correto” consideram como preconceito: branco em vez de preto, liso em vez de enrolado, magro em vez de gordo, subir em vez de descer e etc. Nesta última o nosso amigo Antônio insiste em dizer que subir é melhor.
Acometido de uma doença viral chamada caxumba, que não mata, mas pode provocar a surdez devido o inchaço das glândulas salivares próximas aos ouvidos, ou também, a infertilidade por causa da inflamação dos testículos ou dos ovários; Antônio ficou surdo.
Ainda bem que subiu!!!
Depois de experimentar os sons, ele se deparou com o mundo do silêncio. A tristeza e a depressão foram suas companheiras por um longo tempo. A não aceitação foi terrível! O mundo lhe parecia sem graça, pois se tornou um marasmo onde a trilha sonora era muda aos seus ouvidos. Não era fácil enfrentar a vida!
A autoestima desceu!!!
Sempre inteligente, recebeu convites para trabalhar numa escola de sua localidade, mas se recusava por não se sentir à vontade com a condição de surdez.
A vida de Antônio tornou-se um sobe e desce danado, pois se deparou com um grupo de surdos conversando em língua de sinais, ficou fascinado, pois agora o mundo lhe sorria outra vez. Os sons, as vozes tinham formas, as formas que suas mãos podiam assumir.
A autoestima subiu!!!
Graças à surdez, Antônio pôde agregar novos valores, novos conhecimentos, uma realidade que transformou seu universo em algo melhor, concedendo-lhe oportunidades jamais antes vislumbradas. Como é que não se pode admirar uma pessoa dessas? Instrutor de LIBRAS da EMEIEF Dep. José Martins Rodrigues, aluno do curso de LIBRAS da Universidade Federal do Ceará, um cara amigo e admirado por todos, e além do mais, agora, motoqueiro!
Peço licença para falar um pouco do meu amigo Antônio, porque foi a primeira pessoa que lembrei, quando pensei em homenagear todos os surdos da nossa Escola neste dia que lhes pertence. Parabéns a todos os surdos! Parabéns Antônio!
Ainda bem que a caxumba subiu!


Francisco Fernandes  
Rafaiele Bernardo.

6 comentários:

  1. Encantada, meu caro colega Francisco! Quanta genialidade no uso das palavras.

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    1. Obrigado pelas palavras, Aline! Mas genialidade é um pouco de exagero. kkk

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  2. Brilhante texto professor tenho orgulho de ver este texto e dizer esse meu amigo é fera

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    1. Olá, Antônio! Sabes a quem ofereço esse texto, né? Abraço!

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