domingo, 25 de setembro de 2016

A mácula moral

Naamã era um general de grande prestígio em seu país. Porém, sofria de um dos piores males da sua época, a lepra, hoje conhecida por hanseníase. Essa denominação deve-se ao descobridor do microrganismo causador da doença, Gerhard Hansen. Ela é contagiosa, causando problemas dermatológicos, incapacidades e deformidade no corpo. Isso cabe certinho como tipologia para o pecado; mancha, podridão, separação, e é claramente descrito como a causa da separação entre o homem e Deus. Assim nos diz o profeta.
A tradição política brasileira, não excluindo a de nosso município, parece sofrer dessa praga fétida. Por esse motivo selecionamos o episódio bíblico da cura de Naamã, para entendermos como se processa essa relação de interesses entre candidatos e eleitores.
O general, descobrindo que havia uma possível cura em Israel, buscou o profeta para que fosse salvo do mal que o assolava. Ofereceu pelos seus serviços, ouro, prata, tecidos raros, coisa não tão diferente do jogo de propinas que se observa nas relações políticas. Pagar pela cura? Receber benefícios próprios pela venda do voto; esperar retribuição pelos deveres cumpridos; oferecer algo, esperando receber em troca; é bem característico da raça humana. O profeta não mandou fazer nada de espetacular para a obtenção da purificação. Somente mergulhar sete vezes no rio Jordão, que não seria nada dispendioso ao “grande” homem. Às vezes, são nas coisas simples que se encontra a grandeza e um homem de Deus teve essa experiência: “Veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento, houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa... Então Elias ouviu a voz de Deus”.
“Ele nem apareceu? Não impôs suas mãos sobre minhas chagas? Não poderia ser pelo menos nos rios da minha terra?” Não! Simplesmente no Jordão! Alusão minha a um riacho chamado humildade, a um ribeiro de disponibilidade para, honestamente, servir ao povo. Tomar da fonte da justiça; lavar-se da lepra moral que corrói os bons costumes desde idade mais tenra. Mas, preferem manter-se contaminados com as carcomas da corrupção, a viver na pureza da probidade. 
Naamã foi purificado, mas o profeta recusou receber os presentes, as propinas pelo serviço prestado. Haverá políticos que tenha consciência de receber somente o salário devido a seus cargos? Que não se deixam sujar com o tráfico de influência, tão comum a esse meio? Um secretário do profeta, sorrateiramente, transgrediu o princípio da integridade estabelecido por seu mestre e reivindicou o jabaculê ofertado pelo líder militar. A lepra de Naamã transferiu-se para o jovem.
A mácula da lepra moral é tão contagiosa, que até quem tem bons exemplos pode ser corrompido. O assédio ao “se dar bem” nas transações, às vezes, transcende os bons modelos, pois ser honesto em um contexto de desonestidade provoca indignação e exclusão daqueles que são exercitados por uma conduta imarcescível. Não deixemo-nos atrair pelas facilidades do ilícito! 
Francisco Fernandes


Baseado no texto bíblico de II Reis 5: 1-27

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