terça-feira, 25 de outubro de 2016

A Marcha Vitoriosa

Cabelos crespos, magra, de altura mediana e uma beleza própria, oriunda de sua simpatia e simplicidade, características não muito comuns a seu grupo de colegas de aula. Sempre foi a primeira da turma, qualidade que fizera atrair a simpatia de alguns professores e alunos. Apenas queria desfilar nas comemorações de Sete de Setembro, dia da pátria.
O problema era uma repetição do que ocorrera na infância de seu pai. Só que às avessas, já que ele detestava marchar. Sofrera discriminação muito mais severa, haja vista ter estudado toda a sua educação básica no período da ditadura militar. Nas paradas do dia da pátria era obrigatório desfilar, pena que, por ser “baixinho”, tinha que ficar nos últimos lugares, na “rabada”, sem considerar ser alvejado com chupas de laranjas. Falar a ela de seu sofrimento pregresso não servia de consolo.
Mas desfilar não é para todos! Há uma seleção para aqueles que desejam arvorar a bandeira nacional; ostentar o escudo da escola; comemorar uma independência que não existe. Não existe porque se continua cativo dos colonizadores; escravo das convenções europeizadas, pois o padrão de beleza continua sendo o do europeu. Desfilar somente estes, os que têm altura adequada, cútis clara, cabelos loiros e lisos, descendência nobre ou ser emergente. Eis a pergunta: quem não tem sangue indígena ou não tem um pé na senzala? A seleção é cruel e excludente, como a maioria delas em nosso país. Ela ficou triste, decepcionada, mas se conscientizou de que tudo nesse mundo é perecível. “Tudo passa, mas as minhas palavras não passarão”, disse Jesus.
Os princípios cristãos, impressos em seu coraçãozinho desde idade mais tenra, foram suficientes para dissipar toda nuvem de decepção, frustação e complexo. Sua mamãe sempre disse que os valores deste mundo não podem, em hipótese alguma, suplantar a glória do porvir. Paulo diz que o que há preparado para os cristãos, nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem subiu ao coração do homem. Quem estipulou os critérios de beleza? Quais são os valores dessa sociedade interesseira?  Quais os méritos para o pódio social? Seriam as ações “bajulatórias”?
Anula-se a Cruz de Cristo! Passar pelo seu crivo é renunciar valores que a maioria admite prioridade, o ter em detrimento do ser. A crucificação nulifica o orgulho, desfaz as vaidades, mata o velho homem com seus padrões forjados nos interesses próprios.
Ela não desfilou nas ruas da amada pátria Brasil, mas desfila altaneiramente nas estradas da vida cristã e cresce sabendo que palmilhará os caminhos de ouro da Jerusalém celestial.
Seu hino: Pátria amada, aguardada, o Céu!
Francisco Fernandes

7 de setembro de 2016 

4 comentários: